A gente só precisa começar. O difícil é começar. Começamos,
duas frases atrás. Adoeci, mas tinha que vir aqui. Vai que hoje seja o dia de
você aparecer, e por um descuido meu, você fugiu... de novo? Um homem, uma
mulher, a irmã, uma garotinha. Personagens desta história. O que eles fazem,
onde moram? Onde você mora, se esconde, habita? Aqui nesta cela, que bem
poderia ser um quarto, ou neste quarto, que bem poderia ser uma cela, me pergunto.
Ninguém responde, mas você sabe: o relógio está correndo, e o relógio correndo
me obriga a escrever. É possível que eu tenha esquecido alguma coisa? Inclusive
esquecido do homem, da mulher, da irmã e da garotinha? Lembro que me perguntava
como era esse homem, qual era sua idade, como ele se vestia, e por que ele
estava deitado no sofá. Cansado de quê? Vindo de alguma missão, um assassinato
ou pagamento bancário. Brincando de escrever, você disse, mas escrever é sempre
brincar, sempre playground, só que levado a sério. Imagine, levar um playground
a sério. Do outro lado do oceano. Sua mensagem chegou até aqui. E talvez isso que
escrevo agora chegue a alguém, do outro lado do oceano, ou na esquina desta
casa, ou na cela ao lado.
Você nem se importou em perguntar por que fiquei doente, mas
não importa: passou. Pensemos em um armazém. Vejo um armazém, mesmo a janela
estando fechada. Um armazém com caixas verdes e amarelas. Uma fruteira. Deve
ser lá que você se esconde. Fugindo do quê? Ou você trabalha lá? Ou você
trabalha lá E está fugindo de alguma coisa? Retomo a ideia do assassinato. Por
que será que pensei nisso? Inconsciente, você dirá, sim, mas o que está por
trás disso? Onde termina esta história? No armazém? Ou o armazém é o começo da
história? Penso em um banco. Aí a ideia do assalto faz sentido. Clichê, você
dirá, mas a vida é clichê. A vida é tão sem graça que por isso inventamos as
artes. Por isso inventamos a música e a pintura, inclusive inventamos a
narrativa, e estamos vivos porque nos narramos, já dizia Rosa Montero.
Escrevemos o relato de nossas próprias vidas inventadas, dizia ela. Somos
personagens de uma história que ninguém vai ler, como ninguém vai ler esta
aqui. Só você. É por você que vim aqui hoje, e tenha certeza: é por você que
estou vivo. Neste momento, você intui que sou homem, por causa do “vivo” e não “viva”.
Os gêneros nos entregam. Mas isso é apenas um detalhe. Você e eu somos apenas
detalhes.
Aliás, todo detalhes.
Quarto dia de cativeiro, quarto dia de mensagens atiradas ao
mar dentro de uma garrafa ou dobradas para que o pombo-correio entregue para...
quem? O homem, a mulher, a irmã. Ou a garotinha? Onde vai dar tudo isso? Sei
que você não sabe, ou não pode me contar, ou não vai me contar, de qualquer
forma. Brinco de escrever, mas graças a isso estamos vivos. Você, que eu ainda
não conheço, e eu. Guarde isso: enquanto eu continuar escrevendo você e eu
permanecemos vivos.
Isso é tudo o que sei até o momento.
isso começa a poder funcionar, heim!?
ResponderExcluirSim, "isso começa a poder funcionar"! Valeu o comentário. Vou seguir na busca.
ExcluirE tu, como tá o teu?
Sim, agora deu uma virada. Estava ficando monótono, confesso, mas agora temos um armazém ou um banco ou um entrelinhas para procurar… Sim, Maurem acertou: isso começa a poder funcionar. Abraços! Sou medrosa? Cuidadosa? Não sei… sim, mas se você parar de escrever jamais saberemos dele, dela ou de você e eu, através da sua história jamais saberei de mim. Melhorou? Do dodói, perguntei. Fui! ;-)
ResponderExcluirValeu, Helena. Teu comentário me inspirou - de novo. Agora vou postar o texto de hoje, que acabo de escrever..:)
ExcluirFaltou uma vírgula aqui: "E eu, através da sua história, jamais saberei de mim.
ResponderExcluirBeleza. Ainda não revisei, estou apenas escrevendo, como recomendaram - a revisão total vai ficar para dezembro..:)
ExcluirA vírgula que faltou foi no meu comentário. Se quiser usá-los, fique à vontade, todos os comentários aqui deixados, a exemplo da mulher que é sua primeiro, dela, são seus, comentários. Abração e sigamos. Está ficando interessante.
ExcluirQue show, Helena. Valeu. Continue comentando. Tudo é água para o moinho..:) Fico feliz que esteja gostando. Abraços e sim, sigamos!
ExcluirEstou gostando ansiosa pra ler os próximos capítulos
ResponderExcluirSeja muito bem-vinda. Te desejo uma boa leitura e uma ótima viagem - e se quiser comentar, sinta-se em casa...;)
ExcluirEstou gostando ansiosa pra ler os próximos capítulos
ResponderExcluir“Guarde isso: enquanto eu continuar escrevendo você e eu permanecemos vivos.” Continua escrevendo (e voltando) pra gente continuar vivos. ❤️
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