Quarta-feira,
12 de agosto de 2014
21:27
Você
vai dizer que estou brincando, que sou forçada. Mas: está chovendo. Chove
depois de um dia cinza, lindo, como eu gostaria que fossem todos os dias do
ano. Fez aquele frio que me remete a um lugar seguro e bom. Frio, dia cinza.
Chuva. Talvez esta história termine em um dia de chuva, com todos mortos depois
de um incêndio. Mas talvez a chuva traga algo de bom, algo que no dia de hoje
eu poderia chamar de esperança, e talvez o fim que mais temo e do qual fujo, que
me amedronta noite após noite, embora finja que não, seja mudado.
Mudar
o futuro.
Mudar
o que aconteceu.
Me
arrepio quando escrevo essas coisas. É só uma historinha, não é? Maria, a mãe,
a pequena Clara. Jonas, irmão de Clara, e Marcos, que é primo, mas também
irmão. Os outros acho que não valem um níquel, embora não sei se posso julgar
meus personagens, se fui eu mesma que criei.
São
criação, é apenas mentirinha, não é?
Sabby
me convidou para uma dança. Dancei com Lady Brownie e foi lindo, mas era apenas
um sonho, como às vezes acho que é tudo isso. Mas se eu soubesse dançar nesta
vida, e só porque não vou fazer isso, poderia imaginar uma dança nesta chuva.
Não
posso deixar de registrar que Clara gostava de deslizar pela grama encharcada,
em dias de chuva.
Maria
chamava seu nome, dizia para ela voltar.
Mas
talvez ela tenha deixado a filha brincar, ficar mais um pouco.
Talvez
Jonas e Marcos estivessem junto.
Brincando.
Felizes.
Tenho
vontade de chorar quando penso no quanto eles foram felizes nessa chuva. E
talvez tenha havido outras chuvas. Talvez a chuva não seja o fim de tudo,
afinal. Talvez Claudius tenha ficado com a princesa Clara, em um armazém
abandonado, um castelo do qual ela não conseguiu fugir. E talvez fosse um dia
de chuva. Meu deus, talvez ela quisesse gritar, ou tenha mesmo gritado, mas
estava chovendo. Só ouviram os pingos.
O
céu chorava, enquanto escrevo, como chora hoje, e eu mesma tenho vontade de
chorar.
Mas
por algum motivo que não consigo explicar (Sarah disse que “isso que não
consigo explicar” é sempre inconsciente, pulsões de vida ou de morte e aquelas
loucuras dela), acho que vai passar. A dor mais funda vai passar. A chuva leva
ela para longe, o céu negro lava minha angústia. E como diz Dafne, a gente até
pode acreditar que é feliz.
Por
que não? Uma chuva sem trauma, apenas com uma coisa boa, mesmo que eu não saiba
dar nome para essa coisa. Algo bom. Existe uma música, uma orquestra, uma
melodia, um uivo, um chamado, um suspiro, um sopro de vida, que é tudo isso.
Aquilo que não consigo dar nome. Aquilo que me jogaram e de alguma forma tenho
que devolver para o mundo.
Por
isso escrevo.
Vejo
o olhar de Clara perdido na janela, olhando para a chuva.
Vejo
o mesmo olhar no rosto de Maria, a mãe. Atrás do vidro, distante da chuva.
Elas
eram muito parecidas, só agora percebo.
Mãe
e filha.
Meus
amores.
Me
arrepio quando escrevo isso.
E
não tenho mais vontade de chorar.
Obrigado,
chuva.
Obrigado.
Não
tenho mais vontade de chorar.
21:47
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