Terça-feira,
18 de novembro de 2014
23:49
Faltam
dez minutos.
−
Quero capítulo novo com rosas amarelas e ballet, de presente de aniversário.
Eu
já tinha visto ela, mas nunca assim tão de perto. Ainda não sei seu nome. Ela
veio para mim, ontem, e disse que estava de aniversário amanhã – daqui a pouco,
na verdade – e pediu para eu escrever sobre ela. Tipo um cartão de aniversário.
E como seria essa personagem inspirada em você, perguntei, ainda sem ter
certeza, como sempre, do que eu deveria fazer.
Ela
disse que queria rosas amarelas. Seria uma bailarina. E seria um tanto
melancólica.
Ela
me disse que se sente muito gorda, embora para mim seja bem magrinha. Então ela
disse que coloca as coisas para dentro, depois para fora. Nada deve entrar. E
se entrar, tem que sair.
Gostei
dela. Pensei nessa bailarina, cujo nome ainda não sei, carente e desesperada para
me pedir um presente, eu, Maria Carente E Desesperada Que Às Vezes Faz Coisas
Boas Para Os Outros. Talvez ela não seja desesperada, não como a maioria de
nós. Na verdade, ela sorriu bastante nos breves instantes em que conversamos. Mas
sei que ela também tem suas fendas. Um olhar de melancolia que decerto foi o
que fez ela vir até mim. Pensar que essa garota vomita as coisas me causa
quenturas na garganta e uma certa tontura.
Talvez
eu também já tenha feito isso.
Muito
tempo atrás.
Como
talvez Clara.
De
novo, começo falando de mim e acabo parando nesta história delirante. Comecei a
falar dessa garota, Lady Ballet, na falta de outro nome, e tudo deságua em mim.
Talvez tudo isso seja sobre mim, no fim das contas.
De
novo, tenho vontade de chorar.
Me
arrepio e sangro enquanto escrevo isso.
Choro
e sorrio enquanto escrevo.
E
ao escrever, danço.
Como
Lady Ballet e suas rosas. E imagino ela com suas sapatilhas dançando em meio a
uma cachoeira de rosas amarelas. Feito as que Oxum gosta. Ou seria Iemanjá? Não
importa. Ela dança e talvez já não dance mais. Talvez nunca mais tenha dançado.
Mas ela ainda aguarda uma última dança. Sozinha ou acompanhada, não importa.
Ela sorri e enquanto caminha na ponta dos pés, não existe dor. A dança da cura,
do sentido depois de tudo que se quebrou.
Por
que ela me pediu para escrever sobre ela?
Porque
ela é uma garota de fendas.
Sabby
diz que sou a Maria Observadora.
Pelo
menos não somos como essas idiotinhas que vivem rindo de tudo e não assumem suas
dores, porque é uma vergonha dizer que temos dias tristes de vez em quando. A
tal ditadura da felicidade. Hoje rio delas. Rio com pena. Com uma certa superioridade
de quem já olhou por cima do muro e não tem mais como fingir que não há nada lá.
E
as loucas somos nós, acabo de pensar.
De
qualquer forma, ao som dessa música que me volta de tempos em tempos, todo dia
na verdade, se eu tivesse coragem, coisa que nunca vou ter, de que alguém lesse
essas palavras bem ruinzinhas que escrevo, talvez Lady Ballet me lesse e
dançasse. Não, lesse, não. Apenas dançasse. Mesmo que fosse apenas uma dança de
aniversário. Uma dança para matar as saudades. Uma dança para viver mais um
pouco.
Para
chorar sozinha no escuro.
Dançando.
Celebrando
a vida, que apesar de tudo ainda é vida.
Vida
hoje.
Estava
louca para dormir, mas estava lendo um texto que Sarah me deu sobre sublimação,
sobre crianças que aprendem a escrever bem e sentem prazer nisso, e senti uma
certa paz. Passou o sono. Precisei vir aqui brincar no meu playground.
E
espero que você esteja brincando no seu, Lady Ballet.
Feliz
Aniversário, garotinha.
00:10
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