Terça-feira,
25 de novembro de 2014
22:01
Ontem
choveu e não escrevi. Não sei se foi isso. Hoje senti o peito apertado, uma
raiva de querer dizer para o mundo, carinhosamente: vá se foder. Será a falta
da escrita? A falta de sangrar aqui? A falta de chorar um pouco mais? De
gritar, até porque quando grito pelas palavras escritas ninguém ouve, mas meu
espírito enxuga suas lágrimas, e às vezes cansa suas cordas vocais do coração,
será isso? Porque dói. Mas é uma dor boa.
A
dor que cura.
Sarah
disse que a gente pode escrever para limpar os pensamentos.
Para
organizar o caos.
O
caos dentro de mim.
As
palavras vão se acumulando e a dor vai ficando lá para trás, no começo da
frase, para onde não olho mais e vou seguindo em frente. Sem raiva, sem medo.
Ou com tudo isso, mas com palavras que vou tirando não sei de onde, e ainda não
entendo qual a mágica que me faz escrever, talvez a mágica daquela música que
sugere um lugar bom, porque existe esse lugar, e escrevo pensando nele, canto e
danço, se eu cantasse e dançasse, pensando em como ele é. Como será, o lugar
que fica no fim disto tudo.
Lá onde está a pequena Clara.
Lá onde está a pequena Clara.
Pensei
se Lady Ballet dançava por esse motivo.
Dafne mostrou uma de suas pinturas, uma mulher deitada, linda, em sua incompletude, naquela dor que rima com amor. Acho que escrevo para garotas com fendas. Como Daf, Sabby. Lady Ballet, provavelmente.
Às
vezes isso tudo parece um Hino à Depressão.
Mas
sei que de algum lugar, Clara, se chegou a crescer, deve ter tirado forças para
seguir em frente. Penso nisso enquanto escrevo. Maria, a mãe, feliz, mas
tristonha, ou uma tristonha feliz, talvez tenha tirado forças também, no meio
da solidão em uma das várias vezes em que foi internada. Elas sabiam que existe
algo na dor que só quem já compartilhou dela pode entender. E talvez elas
também tenham se esquecido de onde colocaram, depois que esconderam: sua dor.
Aqui
dentro faz calor. Não gosto de calor. Talvez este texto, sempre horrivelmente mal
escrito, tivesse saído melhor se eu tivesse escrito ontem. Mas talvez não
existisse, aliás, certamente não existiria, se eu tivesse escrito ontem.
Escrevo, choro, grito e quero explodir: hoje. Ontem foi ontem. Escrevo o que
sou agora e só escrevo porque sei que ninguém vai ler. E mesmo que alguém leia
isso aqui escondido, por que perderiam seu tempo com esta merda?
Por
que perderiam seu tempo comigo?
Talvez
haja um motivo. Quer dizer, é claro que há. Hoje outra dessas loucas, porque a
história que tento esconder a cada noite parece querer criar asas e sair pela
janela, me perguntou qual o sobrenome da família de Clara. Tipo, poderiam fazer
um genograma, como já devo ter pensado um tempo atrás, e essa doida me veio com
essa: qual o sobrenome da família de Clara?
Nunca
tinha pensado nisso.
Achei
uma pergunta perturbada de uma garota perturbada. Outra garota com fendas.
Mas
talvez aí esteja um dos segredos desta história.
Se
eu descobrisse um nome a mais, talvez eu estivesse salva.
Um
nome a mais, ó meu deus, e descobriria como termina a história de Clara.
De
novo, me arrepio.
O
que significa que estou no caminho certo.
Sabby
me contou que anda de olho em um desses malucos. Disse que ele gosta de poesia,
que foram feitos um para o outro, que são almas gêmeas, parecem ler a mente um
do outro. Ainda não sei se isso é real ou está apenas em sua mente delirante –
mas se for, e daí? Ela pareceu feliz e isso, por hoje, basta para uma garota
com fendas.
Um
nome e um sorriso.
Acho
que é tudo do que precisamos no dia de hoje.
Enquanto
respiramos, aliviadas, na esperança de estarmos indo, não sei e não importa
para onde.
Rumo
ao penhasco. Que nos chama. Que nos pede um mergulho.
Mas
que no dia de hoje, acredito: vai nos acolher.
22:23
Ei, Mary, era segredo!
ResponderExcluirMas tudo bem, tomara que ele saiba. Quem sabe se ele ouvir os comentários dos outros loucos, ele... saia correndo.
Mas afinal, ele é maluco mesmo! Para ser tão bela flor...
Abraço! Sabby
Somos todas malucas e malucos. Desculpe, ainda me iludo achando que ninguém lê o que escrevo trancada aqui. Mas a mensagem, de alguma forma, deve chegar em quem tem que chegar. De mim para mim, mas talvez de mim para ti e outras doidas mais. Quem sabe até uns doidos.
ExcluirAbraço, Mary